RETIRO 2010

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sábado, 10 de abril de 2010

Religião e política

As recentes convulsões eleitorais na República Islâmica do Irã trazem de novo para a ordem do dia a reflexão a propósito das relações sempre instáveis entre religião e política. Em princípio, república teocrática é uma contradição em termos. É praticamente impossível compatibilizar o exercício do poder por mandato divino com mecanismos essenciais ao legítimo regime republicano como o voto livre, a alternância no poder, o pluripartidarismo e a liberdade de expressão e informação. Em geral, o pretexto da obediência absoluta à vontade de Deus resulta em tirania e opressão no âmbito interno. No externo, em aventuras megalômanas epersecutórias visando à implantação do céu na terra, a ferro e fogo, e à destruição do Grande Satã do momento. No Brasil, o advento da República trouxe consigo o princípio constitucional do Estado laico. Até então, por obra e graça da Constituição monárquica de 1824, a Igreja Católica Romana detinha o privilégio de ser a religião oficial do país. Pagando um inevitável tributo à realidade dos fatos, e apelando para o lamentável “jeitinho brasileiro”, permitia-se às demais “religiões” a realização de “seu culto doméstico e particular, em casas para isto destinadas, sem forma exterior de templo”. Os efeitos desta espécie de monopólio da fé na mentalidade religiosa do povo brasileiro ainda estão por serem plenamente diagnosticados, mas com toda certeza a tendência de algumas igrejas e credos à uma interesseira promiscuidade com o Estado estão entre eles. Se hoje o preceito constitucional garante a plena liberdade de culto no país, são ainda visíveis resquícios da forma de agir do período monárquico. O feriado de 12 de Outubro é um deles. A Igreja Católica tem todo o direito de ter sua padroeira e de festejá-la conforme bem lhe ocorre. Num regime democrático como se pretende que seja o brasileiro, a liberdade de culto garante a todos, mesmo aos ateus, a prerrogativa de praticar e divulgar suas crenças da forma como lhes convier, dentro dos limites legais. O que não se pode admitir é que se imponha à totalidade da população a paralisação de suas atividades porque uma parcela de fiéis pertencentes à uma determinada confissão precisa celebrar um de seus santos. O argumento eventual de que se trata da própria Mãe de Deus apenas confirmará a tentativa de manipular a realidade política através do apelo teocrático aos símbolos religiosos. Por uma questão de honestidade intelectual e de coerência filosófica, num Estado laico não existir qualquer feriado religioso. Ou, então, que todas as religiões (e elas no Brasil não são poucas) tivessem um feriado nacional alusivo a um de seus vultos ou datas importantes. Do jeito como as coisas estão configuradas, o uso do poder político em benefício de seu próprio grupo permanece como uma tentação à porta de todas as igrejas. É por essa razão que Portal Batista - Religião e política a denominação batista precisa levar a sério seus princípios históricos de defesa da liberdade religiosa e da separação entre Estado e Igreja. Numa época quando tudo se vende e tudo se compra - a começar pela alma - com o objetivo anticristão de obter e controlar o poder político e econômico a qualquer custo, isso é o mínimo que se espera dos que trabalham para torná-la uma denominação cada vez mais forte.

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